Panacéia dos Amigos

quarta-feira

Conheça 10 pessoas que quase ficaram famosas


1. O quinto beatle

Pete Best foi o primeiro baterista dos Beatles. Foi convidado para entrar na banda, em 1960, um dia antes de Paul, George e John embarcarem para uma turnê na Alemanha. Eles passaram os anos seguintes tocando em bares de Hamburgo, mas seu salto para a fama só veio em 1962 – quando George Martin, dono do estúdio Abbey Road, ofereceu um contrato à banda. Com um porém: ele gostaria de usar outro baterista para a gravação. No dia 16 de agosto de 1962, Pete Best foi demitido por telefone pelo empresário dos Beatles e substituído por Ringo Starr. Um mês depois, os Beatles finalmente estouraram com a música Love Me Do. Best, que hoje tem 70 anos, passou a vida trabalhando como servidor público em Liverpool – e lançou um disco em 2008.

2. Os verdadeiros McDonald’s

Os irmãos Dick e Mac McDonald criaram o conceito de fast food e abriram sua primeira lanchonete em 1941, na Califórnia. A ideia fez um sucesso moderado até que, na década de 1950, outra pessoa teve uma ideia. Ray Kroc, que vendia máquinas de milshake para os irmãos McDonald, propôs que eles abrissem franquias pelos euA. em 1958, já eram 34 restaurantes, e mais 68 foram abertos só em 1959. Mas aí, em 1961, os irmãos resolveram vender sua parte no negócio para Kroc – que pagou o equivalente a us$ 19 milhões em valores de hoje. um belo dinheiro, com certeza. Mas um péssimo negócio. A rede se transformou numa multinacional gigantesca, com mais de 33 mil lanchonetes espalhadas por 119 países e faturamento de US$ 24 bilhões por ano. e os irmãos McDonald viram outra pessoa ficar multibilionária explorando a ideia e o nome deles. Mac morreu em 1971, e Dick, em 1998.

3. Ele não quis ser dono do Facebook

Joe Green dividia um quarto na Universidade Harvard com ninguém menos do que Mark Zuckerberg. Eles eram muito amigos e já tinham tocado um projeto juntos – a criação de um site em que os estudantes podiam dar nota para a aparência dos colegas. Para obter as fotos dos estudantes, Green e Zuckerberg tiveram de invadir computadores da universidade. Eles foram pegos e quase acabaram expulsos de Harvard. Por isso, Green ficou receoso em entrar na nova aventura do colega: uma rede social chamada The Facebook. Ele preferiu focar nos estudos para terminar a faculdade e recusou a proposta de Zuck – que ofereceu ações do site em troca de participação no projeto. A decisão custou (muito) caro. O valor de mercado do Facebook, que recentemente anunciou a abertura do seu capital, é de US$ 100 bilhões. Isso significa que, ao recusar as ações, Green deixou de ganhar cerca de US$ 400 milhões. Não ficou rico, mas fez uma coisa boa: depois de se formar, foi para São Francisco e criou o site Causes, um serviço de doações online que já arrecadou US$ 47 milhões para 50 mil instituições de caridade.

4. O suposto pai da aspirina

Arthur eichengrün, químico que trabalhava para a Bayer, criou a aspirina em 1896. em 1934, com o avanço da ideologia nazista, ele foi excluído da história devido a sua origem judaica, e a versão oficial dos fatos passou a atribuir a descoberta ao cientista ariano Felix Hoffman. Eichengrün passou a vida contando essa história – até morrer, em 1948, três anos após o fim da segunda Guerra, sem ser reconhecido. Em 1999, um historiador britânico reexaminou o caso e disse ter encontrado provas que sustentam a versão dele. Mas, até hoje, a Bayer atribui a invenção a Hoffman.

5. O Guns do Guns n’ Roses

Em 1983 o guitarrista americano Tracy Ulrich, mais conhecido como Tracii Guns, montou a banda L.A. Guns com o vocalista Axl Rose. Logo depois, Axl acabou deixando o grupo para montar outra banda, a Hollywood Rose. Dois anos mais tarde, ele e Tracii decidiram se juntar e formar um novo grupo: o Guns n’ Roses, que combinava o nome dos dois. Mas não durou muito, pois Tracii tinha o mau hábito de faltar aos ensaios. No mesmo ano da fundação do Guns, 1985, ele foi expulso. Em seu lugar, entrou um tal de Slash (Saul Hudson). A banda manteve o nome Guns n’ Roses e dois anos depois lançou seu primeiro álbum: Appetite for Destruction. Esse disco tem as clássicas Welcome to The Jungle e Sweet Child O’Mine e vendeu 28 milhões de cópias, deixando Axl e seus colegas milionários – exceto Tracii, que voltou para a L.A. Guns, onde está até hoje.

6. Inventou o Google, mas não levou

Em 1997, Hubert Chang conheceu Larry Page e Sergey Brin, os criadores do Google. Os três estudavam na Universidade Stanford foram apresentados por um professor e começaram a tocar um projeto juntos – o PageRank, sistema de classificação de sites que é a base tecnológica do Google. Alguns meses depois, Page e Brin perguntaram a Chang se ele queria que seu nome fosse incluído no projeto, que seria apresentado em uma conferência. E Chang disse não. Foi uma decisão incrivelmente burra, mas que na época não parecia: ele precisava terminar seu doutorado e não teria tempo para se comprometer com o projeto, no qual não acreditava muito. Chang continuou na universidade, onde concluiu seus estudos em 2003. Quando o Google já havia se transformado em superpotência, em 2007, ele finalmente veio a público reinvindicar a coautoria. Não deu em nada. Page e Brin negaram solenemente que Chang tenha participado. “Além da minha palavra, só tenho como prova os emails que troquei com o professor que me apresentou a Page e Brin. Infelizmente, o professor faleceu. O meu reconhecimento nunca virá”, admite Chang. Ele se mudou para Hong Kong, onde trabalha para empresas de tecnologia.

7. A um passo de Hollywood

Em 1966, Burt Ward era um ator de sucesso: ele fazia o papel de Robin na série Batman, bastante popular na TV americana. Em 1967, foi convidado para representar o personagem Benjamin Braddock no filme A Primeira Noite de um Homem. Ward preferiu ficar apenas como Robin. Foi uma aposta errada: a série parou de ser produzida em 1968. E aquele papel no cinema, que Ward tinha recusado, foi para um rapaz chamado Dustin Hoffman – que deu um show, foi indicado ao Oscar de melhor ator e se tornou um dos maiores astros de Hollywood. Ward fez mais de 30 filmes, mas só produções de baixo orçamento.

8. Pediu para sair da Apple

Ao lado de Steve Jobs e Steve Wozniak, Ronald Wayne fundou a Apple em 1976. Ele desenhou o primeiro logo da empresa e escreveu o manual de seu primeiro computador. Mas, duas semanas depois, se arrependeu – e vendeu sua parte por US$ 800 (equivalente a US$ 3 000 em valores de hoje). Wayne tinha ido à falência com outra empresa, 5 anos antes, e ficou com medo de que isso acontecesse de novo. Jobs e Wozniak chegaram a ir atrás do sócio e insistiram para que ele voltasse, mas não adiantou. A Apple se transformou na maior empresa do mundo, com US$ 428 bilhões de valor de mercado. Wayne? Fez carreira na Atari e em outras companhias de tecnologia e chegou a patentear várias ideias de gadget, mas nunca teve dinheiro para transformá-las em produtos de verdade. Hoje, dedica-se a comprar e vender selos e moedas raras.

9. Quase um popstar

Em 1982, Claudio Tognolli estudava jornalismo na mesma classe em que Paulo Ricardo – que tinha uma banda chamada Pif-Paf. Paulo Ricardo foi trabalhar em Londres. Ao voltar, chamou o amigo para tocar no grupo. Tognolli, que tinha perdido o pai e precisava sustentar a casa, disse ter recusado o convite. Seis meses depois, em 1985, a banda mudou de nome para RPM e estourou (seus dois primeiros discos venderam 2,5 milhões de cópias). Tognolli continuou no jornalismo e se tornou um repórter investigativo de renome. Procurado pela SUPER, Paulo Ricardo não quis comentar o assunto.

10. O criador do som portátil

Lançado em 1979, o Walkman fez um sucesso inimaginável – a Sony vendeu 186 milhões de unidades do aparelho, que virou ícone cultural. Mas sua verdadeira história começa antes. Em 1972, o teuto-brasileiro Andreas Pavel criou o Stereobelt: um toca-fitas portátil com saída para fones de ouvido. Ele diz ter apresentado o produto a empresas como Yamaha e Philips, que recusaram. Pavel decidiu patentear sua invenção na Itália em 1977 e nos EUA, na Alemanha, na Inglaterra e no Japão em 1978. “Eu achava que em um ano já estaria produzindo o aparelho”, declarou ao jornal The New York Times. Não deu tempo. Em 1979, a Sony lançou o Walkman. Pavel processou a empresa, numa luta que se arrastou até 1996 – quando a patente foi anulada e ele teve de pagar os custos do processo, US$ 3 milhões. “Perdi muito tempo e dinheiro e no fim perdi o processo também, de forma injusta”, diz. Ele não desistiu e afirmou à Sony que iria entrar com novos processos em vários países. Em 2003, a empresa acabou fazendo um acordo extrajudicial com Pavel, que ganhou uma indenização. Ele não revela o valor, mas a quantia é estimada em alguns milhões de dólares. Hoje, Pavel desenvolve alto-falantes e um novo tipo de telefone.

Fonte: Superinteressante

sábado

Mulheres de coragem em nossa história




Em um episódio que ficou célebre, no inverno de 1943, em Berlim, um protesto de mais de 6 mil mulheres fez o governo nazista recuar e soltar 1700 judeus casados com alemãs. O ato ficou conhecido como Protesto de Rosenstrasse. Houve apenas um Rosenstrasse, mas outras grandes figuras femininas conseguiram feitos notáveis na luta contra o horror. Usando da influência dentro do Partido Nazista, confeccionando passaportes falsos, escondendo pessoas dentro de casas de oficiais alemães ou resgatando crianças em campos de concentração, algumas pagaram com a própria vida. Saiba quem foram elas.

Um grito na guilhotina
QUEM
SOPHIE SCHOLL

NASCIMENTO
FORCHTENBERG (ALEMANHA)

ONDE ATUOU
MUNIQUE

POR QUE É HEROÍNA?
FOI GUILHOTINADA POR DISTRIBUR PANFLETOS ANTINAZISTAS

Dia 22 de fevereiro de 1943. Silêncio na Corte Popular do Palácio de Justiça de Munique. No banco dos réus, a alemã Sophie Scholl, 21 anos, aguardava a sentença. O juiz Roland Freisler selou seu destino: pena de morte por alta traição ao 3º Reich. Seu irmão, Hans Scholl, e o amigo Christoph Probst receberam pena idêntica. Naquele mesmo dia, às 17 horas, os três estudantes perderam a vida na guilhotina. Sophie integrava a Rosa Branca, uma organização de resistência não violenta contra o nazismo. Em vez de empunhar armas, o grupo usava um mimeógrafo e uma máquina de escrever. Imprimia folhetos que denunciavam as atrocidades do regime. "Por que o povo alemão está tão apático em face desses crimes abomináveis?", dizia um dos papéis. Outro anunciava: "Nosso povo está pronto para se rebelar contra a escravização nacional-socialista da Europa". Os panfletos eram enviados por correio a alunos e professores de faculdades da Alemanha. Sophie e seus colegas mandavam as cartas de vários pontos do país. Tanto fizeram que atraíram a atenção da Gestapo.

"A Gestapo pensava que a Rosa Branca era uma organização enorme. Não sabia que tinha apenas 6 membros no núcleo principal", diz a pesquisadora americana Kathryn J. Atwood no livro Women Heroes of World War II (inédito no Brasil). Além de Sophie, Hans e Christoph, o grupo central era formado por outros dois alunos da Universidade de Munique e um professor, Kurt Huber. Foi Huber que escreveu o sexto e último panfleto, no início de 1943. Foi quando os estudantes cometeram um erro fatal: distribuíram o panfleto pelos corredores da universidade e foram vistos pelo funcionário Jakob Schmidt, nazista de carteirinha que os dedurou à Gestapo. Os outros integrantes se salvaram por falta de provas. Durante o julgamento, sem autorização para falar, Sophie gritou: "Alguém tinha de começar! O que escrevemos e falamos é o que muitas pessoas pensam, mas não têm coragem de dizer em voz alta!".


A condessa generosa
QUEM
MARIA VON MALTZAN

NASCIMENTO
MILICZ (POLÔNIA)

ONDE ATUOU
BERLIM

POR QUE É HEROÍNA?
ABRIGOU MAIS DE 60 JUDEUS EM SEU APARTAMENTO

Em 1943, o governo declarou que Berlim estava judenfrei ("livre de judeus"). No entanto, vários deles viviam escondidos pela cidade. Um dos refúgios era o apartamento da Maria von Maltzan, filha de um conde alemão. Ela havia se doutorado em ciências naturais em 1933, ano em que Hitler chegou ao poder. Desde então arriscava a própria pele para proteger judeus em fuga.

Os refugiados ficavam em seu apartamento por alguns dias até conseguirem um jeito de sair do país. Mas o namorado de Maria, o escritor judeu Hans Hirschel, mudou-se de mala e cuia para lá. Quando alguém chegava, Hans se ocultava no fundo falso de um sofá na sala. Maria não levantava muitas suspeitas porque era da fina-flor de Berlim, tinha acesso a informações da elite do Partido Nazista e sua posição privilegiada na sociedade a livrava de maiores problemas.

Até o que dia em que um oficial bateu à sua porta. Ao entrar no apartamento, ele olhou para o sofá e perguntou: "Como posso saber se alguém não está escondido aqui?" Maria decidiu correr o risco: "Se você está seguro de que tem alguém aí, vá em frente e atire. Mas, antes de fazer isso, deixe uma declaração por escrito garantindo que vai pagar pela restauração do sofá". Deu certo. O oficial não disparou e saiu do apartamento.

Até a rendição alemã, em maio de 1945, ela continuou ajudando vítimas do nazismo. Fez documentos falsos e contrabandeou pessoas dentro de móveis para a Suécia. "Maria sozinha salvou mais de 60 judeus e inimigos políticos dos nazistas, além de ajudar no resgate de muitos outros", diz a pesquisadora americana Kathryn J. Atwood. Depois da guerra a condessa se casou com Hans e trabalhou como veterinária em Berlim até morrer, em 1997.


Virou amante do major e salvou 12
QUEM
IRENE GUT

NASCIMENTO
KOZIENICE (POLÔNIA)

ONDE ATUOU
UCRÂNIA

POR QUE É HEROÍNA?
ESCONDEU 12 JUDEUS NA MANSÃO DE UM OFICIAL ALEMÃO

A enfermeira polonesa Irene Gut tinha 17 anos quando fugiu para a fronteira com a União Soviética. Voltou à cidade onde morava (Radom) em 1942, aos 20 anos, quando o major nazista Eduard Rugemer lhe ofereceu emprego de garçonete. Servia os oficiais e, nas horas vagas, contrabandeava comida para o gueto. Rugemer foi para a Ucrânia. Irene também foi enviada para lá, onde seria governanta de sua mansão. Ela escondeu 12 judeus na casa. O major sempre voltava do trabalho na mesma hora. Um dia, porém, chegou mais cedo e flagrou três judias na cozinha. Topou guardar segredo desde que ela virasse sua amante. A jovem cedeu. No fim da guerra Irene se uniu à resistência polonesa. Por sua valentia, recebeu homenagens do papa João Paulo 2º e do Museu do Holocausto de Jerusalém.


"Você me tirou do gueto"
QUEM
IRENA SENDLER

NASCIMENTO
OTWOCH (POLÔNIA)

ONDE ATUOU
GUETO DE VARSÓVIA

POR QUE É HEROÍNA?
LIVROU 2500 CRIANÇAS DO GUETO EM MALAS, BALDES E SACOLAS

Conhecida como "O Anjo de Varsóvia", a enfermeira salvou mais de 2500 crianças da morte. Irena era administradora do Serviço Social de Varsóvia. Quando a guerra estourou, em 1939, começou a fazer documentos falsos, fornecer remédios, roupas e dinheiro para os judeus. Sua atuação passou a ser mais incisiva a partir de 1942, quando os nazistas enclausuraram centenas de milhares de judeus em uma área de 16 quadras. Horrorizada com o Gueto de Varsóvia, a enfermeira se tornou recruta da Zegota, movimento de resistência polonês.

Com livre trânsito nos campos de concentração, que visitava sempre com uma estrela de Davi no braço em solidariedade aos prisioneiros, Irena distribuía comida e medicamentos aos confinados. Usando como pretexto um surto de febre tifoide, que os alemães temiam que se expandisse além das fronteiras do gueto, conseguiu retirar as 2500 crianças "doentes" em ambulâncias da Zegota. Uma vez fora do gueto, as crianças eram escondidas como dava: em sacolas, maletas de ferramentas, baldes e cestos de lixo. Irena anotava o nome de suas famílias e enterrava em local seguro para que depois da guerra pudessem retornar a suas casas. E encontrava famílias não judaicas para cuidar delas. Usava o antigo tribunal à beira do Gueto de Varsóvia, conventos católicos e orfanatos como rotas de "contrabando" de crianças.

Em 1943 Irena foi presa pela Gestapo e torturada na prisão de Pawiak. Foi condenada à morte, mas escapou graças a um gordo suborno da Zegota. No pós-guerra, renegava o título de heroína: "Cada criança salva com a minha ajuda é a justificação da minha existência na Terra, e não um título de glória. Eu poderia ter feito mais. Esse lamento vai me seguir até a minha morte". Foi premiada com a honraria máxima da Polônia, a Ordem de Águia Branca, com o título de Justo entre as Nações e indicada ao Prêmio Nobel da Paz. Depois que sua foto apareceu nos jornais, passou a receber várias ligações. "Um homem, um pintor, me telefonou e disse: ‘Eu lembro do seu rosto’, disse ele. ‘Foi você quem me tirou do gueto. Obrigado’." O "Anjo de Varsóvia" morreu em 2008.


A líder sem roupa
QUEM
MARIE-MADELEINE FOURCADE

NASCIMENTO
MARSELHA (FRANÇA)

ONDE ATUOU
FRANÇA E INGLATERRA

POR QUE É HEROÍNA?
FOI A ÚNICA LÍDER FEMININA DA RESISTÊNCIA FRANCESA

Em tempos de guerra, o pudor não era prioridade. Marie-Madeleine Fourcade conseguiu escapar duas vezes de prisões nazistas - na última, já combatente veterana, saiu sem roupas. Sua história de luta começou em junho de 1940. A francesa, divorciada e mãe de dois filhos, não engoliu a rendição de seu país e abandonou o emprego em uma editora para ingressar na Resistência Francesa, na rede chamada Alliance. Quando o chefe da rede foi preso, em maio de 1941, assumiu o posto - foi a única líder mulher da Resistência. Sua unidade trabalhava com informação, observando e transmitindo para os ingleses movimentos e posições dos nazistas e colaboracionistas. Em agosto de 1941, impressionados com seus serviços, os ingleses supostamente enviaram um operador de rádio para auxiliá-la. Era uma armadilha: o operador era um agente nazista. Marie-Madeleine e vários membros de sua rede foram presos, mas ela conseguiu fugir em 10 de novembro de 1942 aproveitando uma distração dos nazistas. Depois disso, mandou os filhos para a Suíça e passou a viver na clandestinidade. Em 1943, os ingleses decidiram tirá-la da França em uma operação secreta, e ela passou a operar em solo britânico até pouco depois do Dia D, quando desembarcou de novo na França e voltou a espionar os nazistas. Foi presa novamente pela Gestapo, mas não se fez de rogada: tirou as roupas e, magra, conseguiu atravessar por entre as grades. Após a guerra, fundou associações de veteranos da resistência e participou dos julgamentos do colaboracionista Maurice Papon e do nazista Klaus Barbie.


Bala na faca
QUEM
ETA WROBEL

NASCIMENTO
LOKOV (POLÔNIA)

ONDE ATUOU
FLORESTAS POLONESAS

POR QUE É HEROÍNA?
ATUOU NA GUERRILHA POLONESA

Eta Wrobel atuou na resistência desde o início da invasão da Polônia. Começou criando passaportes falsos para judeus. Em 1942, quando o gueto de Lokov foi liquidado, conseguiu fugir com o pai para a floresta e ajudou a fundar uma brigada judaica. Dos 80 integrantes iniciais, só 7 eram mulheres. Eta se recusava a lavar e a cozinhar. Seu negócio era o combate. "Para nós, era difícil conseguir armas. Os russos tinham muitas, mas não queriam nos dar. Então nós roubávamos deles", contou. Um dia, recebeu um tiro na perna e arrancou a bala com uma faca. Viveu no fogo cruzado até 1944. No mesmo ano, casou-se e mudou para os EUA, onde morreu em 2008.


A predadora dos ares
QUEM
MARINA RASKOVA

NASCIMENTO
MOSCOU (RÚSSIA)

ONDE ATUOU
VÁRIOS FRONTS

POR QUE É HEROÍNA?
ORGANIZOU AS DIVISÕES FEMININAS DA FORÇA AÉREA SOVIÉTICA

Em 22 de junho de 1941, Hitler rompeu o pacto de não agressão com Josef Stálin e invadiu a União Soviética. Tinha início a Operação Barbarossa, que contava com 3 milhões de soldados alemães. Em agosto, as forças do Führer haviam capturado 3800 tanques e feito prisioneiros mais de 870 mil soldados soviéticos. Mas a URSS virou a mesa, e não só graças aos homens de suas tropas. Muitas mulheres tiveram sinal verde para combater inspiradas no exemplo da piloto Marina Raskova. Nos anos 30, ela havia se tornado a primeira navegadora da Força Aérea Soviética. E colecionava aventuras, como um voo ininterrupto de mais de 26 horas que quase acabou em tragédia - o mau tempo obrigou a tripulação a fazer um pouso forçado. Ela e duas colegas ficaram dias à espera de resgate. Em fins de 1941, organizou três esquadrões formados inteiramente por mulheres - das mecânicas às oficiais. O de número 588 voava em missões noturnas e gerava enormes danos às divisões alemãs. Sua máquina de guerra era o caça Yakovlev Yak-1, que levava 3 metralhadoras e tinha um raio de ação de 600 quilômetros. Raskova também comandou o Regimento de Aviação 125. Vários países tinham mulheres pilotos, mas, segundo Robert Jackson, autor de Air Aces of WWII, a URSS foi a única a usá-las em combate. Marina morreu em 1943, em um pouso forçado provocado por uma falha mecânica. Tinha 30 anos. Recebeu uma medalha póstuma por sua bravura, caso raro entre as soviéticas.

Fonte: Superinteressante

sexta-feira

Quem foram os Illuminati?

"Eles vivem no mundo moderno. Estão na presidência de bancos, em restaurantes de clubes e campos de golfe. É o seu grande momento." As palavras do acadêmico aventureiro Robert Langdon no romance Anjos e Demônios (estreia nos cinemas em 15 de maio) resumem o mito dos Illuminati: poderosos que comandam o mundo dos bastidores. Ficção à parte, eles realmente existiram e conspiraram, mas sumiram sem realizar seus planos.

A sociedade secreta foi criada em 1776, no reino da Bavária (na atual Alemanha), que eles queriam transformar em uma república de ideais iluministas - daí o nome, "iluminados" em latim. Só faltou combinar com o príncipe Karl Theodor, que em 1785 baniu o grupo e exilou seus líderes, acabando com os Illuminati.

Com seu fim surgiu a tese de que eles apenas fingiram sair de cena, na verdade se infiltrando em todos os governos - todos - para formar um Estado único, a Nova Ordem Mundial. Mas não passa de teoria da conspiração - ao menos, é o que eles querem que você acredite.

A mentira está lá fora
Os Illuminati têm mais membros imaginários que reais

Reais
O criador dos Illuminati, Adam Weishaupt, buscou autoridades e celebridades, como o poeta Goethe, para fortalecer o grupo. Chegaram a ser 2 mil membros em 20 nações europeias.

Supostos
Teorias da conspiração incluem Galileu e outros cientistas como precursores dos Illuminati, e Winston Churchill como a figura que consolidou o seu poder após a 2ª Guerra..
Fonte: Superinteressante

quinta-feira






O George Orwell, aqui em cima, fez um mini-guia de redação. São só seis regras – e tão boas que abrem o Manual de Estilo da Economist, a revista mais bem-escrita do mundo. A elas:


1. Em circunstância alguma utilize um vocábulo extenso onde um reduzido soluciona.

2. Se, por algum acaso, for possível cortar, eliminar, extirpar uma palavra, não se dê de rogado: elimine-a de uma vez por todas.

3. A voz passiva não deve ser utilizada quando a voz ativa puder ser escrita.

4. Nunca use figuras de linguagem que já viraram arroz de festa. Eles podem ser o calcanhar de aquiles do seu texto. Não faça isso, nem pela bagatela de um milhão de reais. Correm boatos de que, só evitando expressões assim, você garantirá textos de qualidade, se tornará uma figurinha carimbada da escrita e será regiamente recompesado por seus leitores, como nunca antes na história deste país.

5. Não empregue um calão tecnicista quando tiver o arbítrio de elocubrar uma elocução de uso anfêmero. E, finalmente:

6. Quebre qualquer uma dessas regras antes de escrever algo tosco.

Fonte: Superinteressante

quarta-feira

10 casos de pessoas que desapareceram misteriosamente

1. Os príncipes da Torre de Londres


Ano: 1483
Já que estamos falando de casos enigmáticos, nada melhor do que começar a prosa com um mistério que se prolonga há quase 600 anos (!). O desaparecimento dos dois filhos do Rei Eduardo IV da Inglaterra intriga o mundo desde o século 15. Depois da morte do monarca, seu filho, Eduardo V, que então tinha 12 anos, seria o herdeiro do trono. Mas, para quem é fã de Game of Thrones, o que aconteceu depois não é surpresa: o irmão de Eduardo, Ricardo de Gloucester, fez com que o Parlamento declarasse ilegítimos os filhos do rei. E assim, o usurpador chegou ao trono e virou Ricardo III. Além de roubar a coroa, o tio malvado prendeu os jovens irmãos na Torre de Londres. Depois disso, eles nunca mais foram vistos – e até hoje não se sabe ao certo que fim eles tiveram. Em 1674, dois esqueletos, possivelmente dos herdeiros destronados, foram encontrados no castelo.
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2. Louis Le Prince

Ano: 1890
Quem sabe um pouquinho sobre história do cinema com certeza já ouviu falar dos pioneiros Thomas Edison e irmãos Lumière, mas, muito provavelmente, desconhece a existência de Louis Le Prince. O francês, por muitos anos deixado fora dos livros, é hoje creditado como o “Pai da Cinematografia”. Utilizando uma câmera de lente única e uma película de papel, Le Prince filmou as primeiras sequências de imagens em movimento em 1888, três anos antes de Auguste e Louis Lumière realizarem seu primeiro filme. Mas Le Prince sumiu antes de conseguir apresentar publicamente seu trabalho: em 1890, o pioneiro do cinema embarcou em um trem na cidade de Dijon, na França, rumo à Paris, e nunca mais foi visto. The End.
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3. Percy Fawcett

Ano: 1925
Arqueólogo e explorador, o britânico Percy Fawcett começou a fazer expedições na América do Sul em 1906. Seu destino era a Amazônia brasileira. Depois disso, Fawcett se aventurou em outras sete expedições pelo continente. Em 1925, o arqueólogo partiu para a Serra do Roncador, em Barra do Garças, no estado do Mato Grosso, com um objetivo inusitado: encontrar “Z”, uma cidade perdida sobre a qual havia ouvido diversas lendas. Só que nem a cidade, nem o explorador foram encontrados. Percy e seu filho Jack, que o acompanhou na viagem, desapareceram misteriosamente na região do Alto Xingu.
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4. Agatha Christie

Ano: 1926
Este caso deixaria Hercule Poirot bastante intrigado. Agatha Christie, criadora do famoso detetive belga e autora de mais de oitenta obras de suspense, desapareceu misteriosamente em 1926. Seu sumiço aconteceu pouco depois da escritora britânica descobrir que seu marido, Archie, estava tendo um caso e queria o divórcio. Se fosse uma obra da ficção, o marido certamente levaria a culpa, mas na vida real a história foi diferente. Onze dias depois, Agatha foi avistada em um hotel em Yorkshire. Ufa! A Rainha do Crime preferiu manter o mistério e nunca explicou o motivo de seu desaparecimento. Até um livro foi escrito sobre o episódio: em Agatha Christie and the Missing Eleven Days (“Agatha Christie e os onze dias perdidos” em português), Jade Cade tenta desvendar o caso conversando com pessoas próximas da escritora. Mas a verdade é que Christie levou esse segredo para o túmulo.
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5. Walter Collins

Walter e Arthur
Ano: 1928
O pequeno Walter Collins tinha apenas 9 anos quando desapareceu de sua casa, em Los Angeles. O caso ganhou as manchetes e a busca da polícia era retratada como um grande fiasco. A pressão pública aumentava até que, cinco meses depois do desaparecimento, um garoto identificado como Walter foi encontrado no estado de Illinois. Para melhorar a imagem do Departamento de Polícia, a reunião entre mãe e filho foi transformada em um evento para a imprensa, com garantia de lágrimas, abraços e pose para a foto. O problema foi que, ao chegar lá, Christine, a mãe do garoto, apontou um pequeno problema: aquele não era o filho dela. Fuén.
O que seria apenas mais um fiasco para a polícia, se transformou em um caso surreal: o encarregado pelo caso, Capitão J. J. Jones, sugeriu que Christine levasse o garoto para casa de todo jeito, “só para ter certeza”. Quando Christine insistiu que o garoto não era seu filho, ao invés de admitir a ~confusão~, a polícia escolheu interná-la em um hospital psiquiátrico! Christine só foi solta quando o garoto admitiu ter mentido – seu nome real era Arthur Hutchins Jr., de 12 anos. O caso absurdo inspirou, em 2008, o filme A Troca, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Angelina Jolie. Foi descoberto depois que o Walter de verdade foi uma das vítimas da série de sequestros e assassinatos conhecidos como “Wineville Chicken Murders”.

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6. Amelia Earhart

Ano: 1937
Amelia Earhart merecia o título de Rainha dos Ares. Primeira mulher a voar sozinha sobre o oceano Atlântico, ao longo de sua carreira nas alturas ela acumulou recordes e participou ativamente no incentivo à formação de novas pilotos, além de ter sido importante defensora dos direitos das mulheres. Foi ao tentar estabelecer um novo marco que a pioneira da aviação desapareceu no oceano Pacífico: seu objetivo era conduzir, junto de Fred Noonan, o mais longo voo de volta ao mundo, que seguiria a rota equatorial, completando um percurso de 47 mil quilômetros. Mas algo deu errado: a comunicação pelo rádio falhou e Earhart nunca chegou à Ilha de Howland, destino da aviadora. O caso permanece misterioso já que, até o dia de hoje, nem a aeronave e nem os ocupantes foram encontrados.
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7. Antoine de Saint-Exupéry

Ano: 1944
Você com certeza sabe que “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” mas talvez não saiba que, além de escritor, o francês Antoine de Saint-Exupéry era aviador. O pai d’o Pequeno Príncipe trabalhou em rotas de correio aéreo na Europa, África e América do Sul até a Segunda Guerra Mundial, quando se juntou à Força Aérea Francesa. Em 1944, Saint-Exupéry partiu para uma missão de reconhecimento em um território francês ocupado por alemães. Para o choque de todo o mundo, o escritor desapareceu sem deixar traços. Foi somente em 1998 que um bracelete com seu nome foi encontrado por um pescador. Em 2004 foi confirmado que os restos do avião Lockheed F-5B, encontrados em 2000, pertenciam à aeronave que Saint-Exupéry pilotava.
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8. As crianças Beaumont

Ano: 1966
Um simples passeio resultou na maior investigação policial da Austrália. Os irmãos Beaumont, Jane Nartare, de 9 anos, Arnna Kathleen, de 7, e Grant Ellis, de 4, desapareceram no dia 26 de janeiro de 1966. Naquele dia, foram desacompanhados até uma praia e nunca mais voltaram. Durante um ano, relatos de pessoas que diziam terem avistado as crianças juntas de um homem mantiveram o caso em evidência. Mesmo sem qualquer pista sobre o paradeiro dos Beaumont, a investigação se estendeu por 40 anos e pode ser, em breve, levada para o cinema.
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9. Oscar Zeta Acosta

Ano: 1974
Oscar Zeta Acosta foi um advogado americano, um ativista e um personagem da vida real. Talvez você nunca tenha ouvido seu nome mas, se for fã do jornalista e escritor Hunter S. Thompson, provavelmente o conhece como “Dr. Gonzo”. Foi ao lado de Oscar que Thompson partiu em uma na viagem em busca do Sonho Americano – usando um bocado de drogas para isso. A aventura foi imortalizada no livro Medo e Delírio em Las Vegas (na adaptação cinematográfica de 1998, Oscar é vivido por Benicio del Toro). A vida emocionante do Dr. Gonzo acabou resultando em uma história com final incerto: em uma viagem para o México, em maio de 1974, o advogado desapareceu. Seu paradeiro continua sendo desconhecido.

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10. Eliza Samudio
 
Ano: 2010
Denúncias de agressões, desentendimentos públicos, um sequestro. Eliza Samudio desapareceu misteriosamente em 2010 e o caso se tornou manchete até fora do Brasil. Apesar das histórias contraditórias de seu ex-namorado e pai de seu filho, o goleiro Bruno Fernandes, e de seus amigos Bola e Macarrão, as investigações concluíram que a jovem está morta – mas o corpo de Eliza nunca foi encontrado. Com o caso ainda aberto, já que os acusados estão sendo julgados separadamente, esta novela ainda tem alguns capítulos que podem explicar o desaparecimento ou deixar o mistério no ar por muito mais tempo.

Update:  Madeleine McCann


Ano: 2007
As férias de uma família britânica em Portugal ganharam inesperado ar de suspense em 2007. Numa noite de sábado, Kate e Gerry McCann deixaram seus três filhos, Madelaine e seus irmãos gêmeos, de dois anos, sozinhos no apartamento alugado enquanto jantavam em um restaurante próximo. Ao voltarem, a surpresa: a pequena garota havia desaparecido. O caso repercutiu rapidamente. Na madrugada do dia 4 de maio, poucas horas depois dos pais perceberem o sumiço, o jornal britânico The Telegraph já anunciava: “Garota de 3 anos pode ter sido sequestrada em Portugal”. A rapidez com que o caso foi parar nas manchetes de todo o mundo – e prolongada cobertura dada à investigação – não fez com que a busca pela pequena inglesa corresse melhor. Passados mais de 5 anos desde o seu desaparecimento, ainda não se tem notícias do paradeiro da garota..

Tarot - História


Há várias versões para a origem das 78 cartas que compõem o Tarô - hoje conhecido como um dos mais populares oráculos. A Planeta na Web apresenta aqui um apanhado destas versões, com o objetivo de iluminar um pouco mais esse baralho repleto de simbolismo, que vem intrigando e ajudando tantas pessoas em sua busca pelo auto-conhecimento.

Em geral, para quem é chamado a se embrenhar pelo fascinante simbolismo do Tarô, pouco importa sua origem. Mas não deixa de ser curioso compreender que a profusão de baralhos hoje disponível em qualquer livraria pode, na realidade, ser fruto de um baralho criado no início do século XV, no norte da Itália, usado unicamente para um jogo semelhante ao Bridge, conhecido como Jogo de Triunfos. De acordo com Ana Correa, também há registros que as cartas eram usadas para o ensino de virtudes para as crianças. .

Nessa época, os baralhos de cartas de jogar já eram comuns na Europa. Há documentos que atestam a existência, por volta de 1440, de um baralho de cartas de triunfos , com pinturas alegóricas de animais. Em 1450, o recém-instalado duque de Milão, Francesco Sforza, escreveu uma carta a um de seus subalternos requerendo que ele comprasse vários pacotes de cartas de triunfos para serem usadas na corte. Esta mensagem é interessante porque o duque menciona as cartas de triunfo e as cartas de jogar, distinguindo-as claramente, pois este último baralho seria sua segunda opção de compra. De acordo com registros históricos, as primeiras cartas datariam do reinado de Filippo Maria Visconti, duque de Milão, no período de 1416 a 1447. 

Naquela época a Itália era uma colcha de retalhos de cidades-estado. O Vaticano controlava a maior parte do centro do país, e o reino da França fazia fronteira com o reino de Savoya. Rapidamente, as cartas de triunfo se espalharam pela França. Foi por volta de 1530 que a palavra tarochi (ancestral da francesa tarô) apareceu pela primeira vez. Aparentemente, a razão para a mudança de nome foi uma inovação feita pelos jogadores, que descobriram que o jogo de triunfos poderia ser jogado com um baralho de cartas comum, se eles simplesmente declarassem que um determinado naipe servia como triunfos , no início do jogo. Logo, triunfo se tornou um termo ambíguo e uma nova palavra era necessária para se referir ao tradicional jogo que usava as cartas com figuras como trunfos permanentes e que havia se tornado tremendamente popular, particularmente entre a nobreza italiana e francesa da época. Foi assim que a palavra tarochi começou a ser usada, embora sua etimologia permaneça sujeita a conjecturas. 

Embora evidências históricas documentem que as cartas de triunfos nasceram como cartas de jogo, existe a possibilidade de que as 22 cartas que formam os arcanos maiores do Tarô tenham sido criadas com outros propósitos. Embora nenhum documento tenha sobrevivido para corroborar esta hipótese, o fato é que os símbolos e imagens deste baralho não parecem ter sido selecionados arbitrariamente. 

Um dos possíveis criadores desse inventivo jogo de cartas pode ter sido o sábio Marziano de Tortona, que foi tutor do duque Filippo Maria Visconte. Ele era especialista em astrologia (ou astronomia, pois nessa época essas duas disciplinas ainda caminhavam juntas) e lhe servia como secretário. 

Sabe-se com certeza que em algum momento em torno de 1515, o duque ordenou que Marziano inventasse um jogo de cartas de acordo com suas instruções. Ao invés dos naipes comuns, o novo baralho representava virtude, riqueza, pureza e prazer, simbolizados por figuras de pássaros: águias, fênix, rolas e pombas. A cada naipe também havia quatro cartas maiores retratando divindades clássicas. Essa concepção de baralho é um antecedente da idéia de triunfos , mas embora essas não sejam as cartas que hoje conhecemos como Tarô, Marziano chegou a escrever um livro para acompanhar esse baralho de cartas. Seu livro não fornecia significados divinatório nem regras para um jogo de cartas, seu foco era o significado alegórico das figuras e sua hierarquia. Talvez não seja exagerado supor que algum tempo mais tarde, o duque Filippo tenha instruído seu secretário a conceber outro baralho com cartas alegóricas que, desta vez, significavam as forças que controlam o destino humano. 

Outras versões atestam que os Tarocchi de Veneza teriam sido os primeiros a conter a fórmula dos baralhos de tarô conhecidos hoje: 78 lâminas, subdivididas em 22 arcanos maiores e 56 menores. Estes últimos tinham quatro naipes Denari (dinheiros), Coppe (cálices ou copas), Spade (espadas) e Bastoni (bastos ou bastões) -, cada um deles integrado por um rei, uma rainha, um cavalheiro e dez cartas numeradas. Tarô e o ocultismo

O interesse moderno do Tarô como um instrumento divinatório teria se originado no séc. XVIII, a partir do movimento ocultista francês e, mais tarde, inglês. 

Formado em teologia e pastor da Igreja Reformada, Antoine Court Gebelin (1725-1784) devotou 20 anos à pesquisa que resultou em nove volumes publicados sob o nome de Le Monde Primitif, analysé et compare avec leê monde moderne. No primeiro volume de sua obra, Gebelin apresenta a teoria de que as cartas de Tarô nasceram das páginas do Livro de Thot salvo das ruínas dos templos egípcios. Conta-se que tal livro possuiria as respostas para todos os problemas da humanidade e foi concebido por sacerdotes após consultas com o deus da magia, Thot, que também seria o Mercúrio egípcio. Esses sacerdotes teriam ocultado esse conhecimento secreto no baralho de tarô. 

Gebelin também acreditava que os ciganos eram na verdade egípcios que se dispersaram pela Europa, e teria sido deles que se originou o costume de ler a sorte nas cartas. Entretanto há inúmeras evidências que demonstram que os ciganos, forçados a sair da Índia no começo do século XV, só estenderam suas peregrinações pela Europa quando as cartas - que devem ter sido introduzidas na continente pelos árabes - já eram conhecidas há algum tempo.





Um de seus maiores seguidores, o peruqueiro Alliete, inverteu a ordem de seu nome, e como Etteilla publicou muitos livros, entre eles, seu famoso trabalho Manière de se récréer avec lê Jeu de Cartes nommés Tarot. 


Etteile sabia como arrebatar a imaginação e a mente do povo da sua época. Adaptou o baralho do tarô ao seu próprio sistema e promoveu ao máximo a cartomancia. Desse modo, Alliette transformou-se no grande adivinho Etteilla e, instalado no Hotel De Crillon, em Paris, pressagiou o destino de muitos franceses que seriam vitimados pelos acontecimentos de 1789. 

Enquanto Gebelin e Etteilla procuraram, zelosamente, provar a origem egípcia das cartas do tarô, Eliphas Levi acreditou que elas fossem um alfabeto sagrado e oculto, atribuído, pelos hebreus, a Enoch, filho mais velho de Caim; pelos egípcios, a Hermes Trimegistus, ao deus egípcio Thoth; e, pelos gregos, a Cadmus, que fundou a cidade de Tebas. 

Eliphas Levi foi um filósofo e um simbolista profundo. Padre da Igreja Romana, seu verdadeiro nome era Alphonse Louis Constant. Mas por causa de suas obras filosóficas e ocultistas, traduziu seu nome para o hebreu Eliphas Levi Zahed. 

Levi encontrou no tarô uma síntese da ciência e a chave universal da Cabala, pois as dez esferas ou emanações que formam o diagrama cabalístico conhecido como Sephiroth, ou Árvore da Vida, são interligadas por 22 caminhos, cada qual representado por uma das 22 letras do alfabeto hebraico. 

Levi, portanto, proclamou que as 22 cartas dos Arcanos Maiores poderiam ser corretamente atribuídas a cada uma das letras do alfabeto hebraico, constituindo, assim, uma unidade completa de letras, cartas e caminhos. 

Outro autor que contribuiu significativamente para o ocultismo do Tarô e para a adaptação das 22 cartas-trunfo do baralho às 22 letras do alfabeto hebraico foi Gerard Encausse (1865-1917), médico francês que escreveu sob o nome de Papus. Fundador e líder da Ordem espiritual e maçônica dos Martinistas e membro da Ordem Cabalística da Rosa Cruz, Papus baseou a sua filosofia ocultista na doutrina teosófica concernente ao nome divino YHVH. Os conceitos e aplicações dos códigos e dos diagramas de Papus são apresentados no seu famoso trabalho The Tarot of the Bohemians - Absolute Key to Occult Science. 

Autor de um dos mais famosos baralhos de Tarô, Dr. Arthur Edward Waite (1857-1942) foi membro da Ordem do Golden Dawn e um genuíno estudioso e pesquisador do ocultismo. Entre seus livros está The Key to the Tarot e The Holy Kabbalah. Para ele, a chave do Tarô reside única e exclusivamente no simbolismo das cartas, que formam uma espécie de alfabeto capaz de infinitas combinações que sempre fazem sentido. O Tarô incorpora as representações simbólicas das idéias universais, por trás das quais estão todos os subentendidos da mente humana , disse Waite. É nesse sentido que ele contém a doutrina secreta, que é a percepção, por uns poucos, de verdades encerradas na consciência de todos, muito embora elas não tenham sido claramente reconhecidas pelas pessoas comuns .





Tarô de Marselha

Um dos mais velhos desenhos que hoje se encontram a nossa disposição, o Tarô de Marselha surgiu no final do século XV, na França, e tornou-se popular em toda a Europa. Para Ana Correa, é o baralho que tem a simbologia mais próxima da cultura ocidental, e é o que ela costuma introduzir a seus alunos. Embora alguns de seus exemplares sejam vendidos acompanhados de um texto explicativo, originalmente o Tarô de Marselha é vendido só como baralho e seus símbolos e figuras servem de ponte para que a intuição do leitor alce vôo e interprete sua linguagem. 

Tarô de Etteilla
As cartas do tarô de Etteilla, conhecidas como as cartas do Grande Etteilla, são um conjunto de cartas emblemáticas baseadas nos desenhos dos tarôs típicos e acompanhadas por uma série numeral, começando com o número 1, Ettelila questionnant (Etteila consultando) e indo até o número 78, Folie (A Loucura). Os desenhos de Etteilla representam um afastamento em relação às figuras simbólicas padrão, encontradas na maioria dos outros baralhos de Tarô. Os desenhos das cartas são quase todos de figuras de corpo inteiro. Os títulos estão em ambas extremidades das cartas e variam levando em consideração os significados invertidos.
Esse conjunto de cartas, desenhado e preparado para fins divinatórios por Etteilla, vinha acompanhado de um livro de explicações e orientações, intitulado Maniére de tirer - Lê Grand Etteilla où tarots Egyptiens.

Tarô Rider-Waite
Famoso baralho criado por Arthur Edward Waite e desenhado, sob a sua supervisão, por Miss Pámela ColmanSmith. O baralho foi editado primeiramente pela Rider&Co.;, em 1910, e por isso ficou conhecido como baralho Rider. Tornou-se o mais popular em países de língua inglesa. Neste Tarô, Waite presumiu, corretamente, que O Bobo, sendo uma carta sem número e representado por O, não devia ser colocado entre as cartas número 20 e 21, conforme fora sugerido por Levi e por Papus, mas que a suas seqüência natural seria antes do Mago, como um atributo da primeira letra do alfabeto hebraico, o Aleph. Ele também mudou de lugar as cartas da Força e da Justiça. Geralmente mostrada com o número XI, a Força é indicada por Waite com o número VIII, trocando de lugar com a Justiça. Outra inovação de Waite foi trazer figuras simbólicas nas cartas numeradas, ao invés de apenas o símbolo do naipe. Com esta mudança, cada carta do baralho faz uma sugestão psicológica imediata na mente do leitor. 

Tarô de Thoth
Outro membro famoso da Ordem do Golden Dawn, o famoso ocultista Aleister Crowley criou o Tarô de Thoth (deus egípcio da magia), pintado por Lady Frieda Harris, em 1940, mas publicado somente em 1966. Esse baralho tem figuras psicologicamente intensas (beirando o psicodelismo) e um desenho bastante abstrato e visceral. Embora as interpretações de Crowley tenham conexões com as de Waite, essa cartas afastam-se completamente dos desenhos usuais de tarô. 

Tarô de Wirth 
As 22 cartas dos Arcanos maiores que acompanham o livro de Oswald Wirth, Le Taro dês Imagiers du Moyen Age, contêm letras hebraicas desenhadas no canto inferior direito de cada carta. Por exemplo, o Aleph é atribuído à carta número I, Lê Bateleur (O Mago). As cartas de Wirth são impressas em admiráveis cores metálicas e ostentam algarismos romanos na parte de cima. O baralho de Case Paul Foster Case, em seu livro The Taro, A Key to the Wisdom of the Ages, usa, para as 22 cartas dos Arcanos Maiores, desenhos que em alguns casos são similares aos desenhos de Waite. As cartas de Case trazem um número arábico no canto inferior esquerdo e uma letra hebraica no canto inferior direito. O Aleph, por exemplo, é atribuído ao Bobo, enquanto que Beth é atribuído ao Mago. Os desenhos em branco e preto do baralho Case permite que a pessoa lhes dê o colorido que preferir. Tarô de C.C. Zain O baralho do tarô usado por C.C. Zain em seu livro The Sacred Tarot, publicado pela Igreja da Luz, também é em branco e preto e se presta para colorir. Embora as cartas sejam ricas em matéria de simbolismo egípcio, elas se afastam completamente dos símbolos usuais de Tarô. The Motherpeace Tarot Este é o primeiro baralho de cartas circulares. Ele promove uma espiritualidade feminista, dentro de um contexto shamanico e decultura tribal. Osho Zen Tarot Embora contenha 78 cartas que podem ser postas em correspondência com as dos baralhos de tarô tradicionais, esse tarô suprimiu totalmente a distinção entre arcanos maiores e menores. Cada carta é uma bela e psicológica imagem em si, pretendendo ser profundamente transformadora. Tarô Mitológico Criados por Juliete Charman-Bourke e Liz Greene, todos os arcanos deste tarô são representados por entidades e histórias da mitologia grega. O conjunto de cartas que forma cada naipe dos arcanos menores retrata um mito ou tragédia grega: o de Copas a lenda de Eros e Psiqué; o de Paus, ao mito de Jasão e Os Argonautas em busca do Velocino de Ouro; o de Espadas, a tragédia de Orestes e a maldição da Casa de Atreu, o de Ouros, a história Dédalus, arquieto, escultor e artesão ateniense que construiu o labirinto para o rei Minos de Creta. 


Um texto de Débora Lerrer
Fontes: Tarô Clássico, de Stuart Kaplan, Editora Pensamento Jung e o Tarô, de Sallie Nichols, Editora Cultrix 

domingo

Livros Apócrifos – A história de José, pai de Jesus, o cristo.




Os livros apócrifos da Bíblia são uma importante e complementar fonte de informação e conhecimento, acrescentando preciosos esclarecimentos às Sagradas Escrituras, principalmente naquilo que se refere à vida de Jesus Cristo entre os oito e os trinta anos.
Narrada por Jesus a seus apóstolos
Esta é a história da morte de José, conforme foi narrada pelo Senhor Jesus a seus apóstolos. Escrita no Egito, por volta do século IV, chegou até os tempos atuais apenas em uma versão copta e uma outra árabe, com algumas poucas diferenças.
Neste texto, o Senhor Jesus conta a história de José, o carpinteiro, cujo ofício era o de manufaturar arados e cangas. Fala de seus sentimentos, quando da aproximação da morte, avisado que foi por um anjo.
A narração da agonia e da morte de José é enriquecida por detalhes interessantes, como o da aproximação da morte, juntamente com seu séquito, inclusive com a presença do diabo.
Alguns detalhes importantes são apresentados, como o nome dos filhos e a idade de José, quando de seu casamento com Maria, enquanto que outros, como episódios da infância de Cristo, confirmam o que é apresentado nos Evangelhos de Pedro, Tiago e Tomé, sobre a Infância do Salvador. Importante alusão, no final do texto, é feita ao Anticristo, cuja vinda convulsionará todas as nações.
Quando nosso Salvador contou a vida de José, o Carpinteiro, a nós, os apóstolos, reunidos no monte das Oliveiras, nós escrevemos sua palavras e depois guardamo-las na biblioteca de Jerusalém. Além disso, deixamos consignado que o dia no qual o santo ancião separou-se do seu corpo: foi do dia 26 de Epep[1] , na paz do Senhor. Amém.
Jesus Fala a Seus Apóstolos
Estava um dia nosso bom Salvador no monte das Oliveiras, com os discípulos a sua volta e dirigiu-se a eles com estas palavras:
- Meus queridos irmãos, filhos de meu amado Pai, escolhidos por Ele entre todos do mundo! Bem sabeis o que tantas vezes vos repeti: é necessário que eu seja crucificado e que experimente a morte, que ressuscite de entre os mortos e que vos transmita a mensagem do Evangelho para que vós, de vossa parte, o pregueis por todo o mundo.
Eu farei descer sobre vós uma força do alto, a qual vos impregnará com o Espírito Santo, para que vós, finalmente, pregueis para todas as pessoas desta maneira: fazei penitência! Porque vale mais um copo de água na vida vindoura do que todas as riquezas deste mundo. Vale mais pôr somente o pé na casa de meu Pai que toda a riqueza deste mundo.
Mais ainda: vale mais uma hora de regozijo para os justos que mil anos para os pecadores, durante os quais hão de chorar e lamentar, sem que ninguém preste atenção nem console seus gemidos. Quando, pois, meus queridos amigos, chegue a hora de ir-vos, pregai, que meu Pai exigirá contas com balança justa e equilibrada e examinará até as palavras inúteis que possais haver dito.
Assim como ninguém pode escapar à mão da morte, da mesma maneira ninguém pode subtrair-se de seus próprios atos, sejam eles bons ou maus. Além disso, vos tenho dito muitas vezes, e repito agora, que nenhum forte poderá salvar-se por sua própria força e nenhum rico, pelo tamanho da sua riqueza. E agora, escutai, que narrar-vos-ei a vida de meu pai José, o abençoado ancião carpinteiro.
Viuvez de José
Havia um homem chamado José, que veio de Belém, essa vila judia que é a cidade do rei Davi. Impunha-se pela sua sabedoria e pelo seu ofício de carpinteiro. Este homem, José, uniu-se em santo matrimônio com uma mulher que lhe deu filhos e filhas: quatro homens e duas mulheres, cujos nomes eram: Judas, Josetos, Tiago e Simão. Suas filhas chamavam-se Lísia e Lídia.
A esposa de José morreu, como está determinado que aconteça a todo o homem, deixando seu filho Tiago ainda menino de pouca idade. José era um homem justo e dava graças a Deus em todos os seus atos. Costumava viajar para fora da cidade com freqüência para exercer o ofício de carpinteiro, em companhia de dois de seus filhos mais velhos, já que vivia do trabalho de suas mãos, conforme o que estabelecia a lei de Moisés.
Esse homem justo, de quem estou falando, é José, meu pai segundo a carne, com quem se casou na qualidade de consorte, minha mãe, Maria.
Maria no Templo
Enquanto meu pai José permanecia viúvo, minha mãe, a boa bendita entre as mulheres, vivia por sua parte no templo, servindo a Deus em toda a santidade.
Havia já completado doze anos. Passara os seus três primeiros anos na casa de seus pais e os nove restantes no templo do senhor.
Ao ver que a santa donzela levava uma vida simples e plena de temos a Deus, os sacerdotes conservaram entre si e disseram:
- Busquemos um homem de bem e celebremos o casamento com ele, até que chegue o momento de seu matrimônio. Que não seja por descuido nosso que lhe sobrevenha o período da sua purificação no templo, nem que venhamos a incorrer em um pecado grave.
Bodas de Maria e José
Convocaram, então, as tribos de Judá e escolheram entre elas doze homens, correspondendo ao número das doze tribos. A sorte recaiu sobre o bom velho José, meu pai, segundo a carne.
Disseram os sacerdotes a minha mãe, a Virgem:
- Vai com José e permanece submissa a ele, até que chegue a hora de celebrar teu matrimônio.
José levou Maria, minha mãe, para sua casa. Ela encontrou o pequeno Tiago na triste condição de órfão e o cobriu de carinhos e cuidados. Esta foi a razão pela qual a chamaram Maria, a mãe de Tiago.
Depois de tê-la acomodado em sua casa, José partiu para o local onde exercia o ofício de carpinteiro. Minha mãe Maria viveu dois anos em sua casa, até que chegou o feliz momento.
A ENCARNAÇÃO
No décimo quarto ano de idade, Eu, Jesus, vossa vida, vim habitar nela por meu próprio desejo. Aos três meses de gravidez o solícito José voltou de suas ocupações. Ao encontrar minha mãe grávida, preso à turbação e ao medo, pensou secretamente em abandoná-la.
Foi tão grande o desgosto, que não quis comer nem beber naquele dia.
Visão de José
Eis, porém, que durante a noite, mandado por meu Pai, Gabriel, o arcanjo da alegria, apareceu-lhe numa visão e lhe disse:
- José, filho de Davi, não tenhas cuidado em admitir Maria, tua esposa, em tua companhia. Saberás que o que foi concebido em seu ventre é fruto do Espírito Santo. Dará, então, à luz um filho, a quem tu porás o nome de Jesus. Ele apascentará os povos com o cajado de ferro.
Dito isso, o anjo desapareceu. José, voltando do sono, cumpriu o que lhe havia sido ordenado, admitindo Maria consigo.
Viagem a Belém
Então o imperador Augusto fez proclamar que todos deveriam comparecer ao recenseamento, cada um conforme seu lugar de origem. Também o bom velho se pôs a caminho e levou Maria, minha virgem mãe, até a sua cidade de Belém.
Como o parto já estava próximo, ele fez o escriba anotar seu nome da seguinte maneira:
- José, filho de Davi, Maria, sua esposa, e seu filho Jesus, da tribo de Judá.
Maria, minha mãe, trouxe-me ao mundo quando retornava de Belém, perto do túmulo de Raquel, a mulher do patriarca Jacó, a mãe de José e Benjamim.
Fuga para o Egito
Satanás deu um conselho a Herodes, o Grande, pai de Arqueleu, aquele que fez decapitar meu querido parente João. Ele me procurou para tirar-me a vida, porque pensava que meu reino era deste mundo. Meu Pai manifestou isso a José, numa visão, e este pôs-se imediatamente em fuga levado consigo a mim e a minha mãe, em cujos braços eu ia deitado.
Salomé também nos acompanhava. Descemos até o Egito e ali permanecemos por um ano, até que o corpo de Herodes foi presa da corrupção, como castigo justo pelo sangue dos inocentes que ele havia derramado e dos quais já nem se lembrava.
Retorno à Galiléia
Quando o iníquo Herodes deixou de existir, voltamos a Israel e fomos viver em uma vila da Galiléia chamada Nazaré. Meu pai José, o bendito ancião, continuava exercendo o ofício de carpinteiro, graças a que podíamos viver.
Jamais poder-se-á dizer que ele comeu seu pão de graça, mais sim que se conduzia de acordo com o prescrito na lei de Moisés.
Velhice de José
Depois de tanto tempo, seu corpo não se mostrava doente, nem tinha a vista fraca, nem havia sequer um só dente estragado em sua boca. Nunca lhe faltou a sensatez e a prudência e sempre conservou intacto o seu sadio juízo, mesmo já sendo um venerável ancião de cento e onze anos.
Obediência de Jesus
Seus dois filhos Josetos e Simão casaram-se e foram viver em seus próprios lares. Da mesma forma, suas duas filhas casaram-se, como é natural entre os homens, e José ficou com o seu pequeno filho Tiago. Eu, da minha parte, desde que minha mãe trouxe-me a este mundo, estive sempre submisso a ele como um menino e fiz o que é natural entre os homens, exceto pecar.
Chamava Maria de minha mãe e José de meu pai. Obedecia-os em tudo o que me pediam, sem ter jamais me permitido replicar-lhes com uma palavra, mas sim mostrar-lhes sempre um grande carinho.
Frente à Morte
Chegou, porém, para meu pai José, a hora de abandonar este mundo, que é a sorte de todo homem mortal.
Quando seu corpo adoeceu, veio um de Deus anjo anunciar-lhe:
- Tua morte dar-se-á neste ano.
Sentindo sua alma cheia de turbação, ele fez uma viagem até Jerusalém, entrou no templo do Senhor, humilhou-se diante do altar e orou desta maneira:
ORAÇÃO de José
- Ó Deus, pai de toda misericórdia e Deus de toda carne, Senhor da minha alma, de meu corpo e do meu espírito! Se é que já se cumpriram todos os dias da vida que me deste neste mundo, rogo-te, Senhor Deus, que envies o arcanjo Micael para que fique do meu lado, até que minha desditada alma saia do corpo sem dor nem turbação. Porque a morte é para todos causa de dor e turbação, quer se trate de um homem, de um animal doméstico ou selvagem, ou ainda de um verme ou um pássaro.
Em uma palavra, é muito dolorosa para todas as criaturas que vivem sob o céu e que alentam um sopro de espírito para suportar o transe de ver sua alma separada do corpo. Agora, meu Senhor, faz com que o teu anjo fique do lado da minha alma e do meu corpo e que esta recíproca separação se consuma sem dor. Não permitas que aquele anjo que me foi dado no dia em que saí de teu seio volte seu rosto irado para mim ao longo deste caminho que empreendi até vós, mas sim que ele se mostre amável e pacífico.
Não permitas que aqueles cujas faces mudam dificultem a minha ida até vós. Não consintas que minha alma caia em mãos do cérbero e não me confundas em teu formidável tribunal. Não permitas que as ondas deste rio de fogo, nas quais serão envolvidas todas as almas antes de ver a glória de teu rosto, voltem-se furiosas contra mim. Ó Deus, que julgais a todos na Verdade e na Justiça, oxalá tua misericórdia sirva-me agora de consolo, já que sois a fonte de todos os bens e a ti se deve toda a glória pela eternidade das eternidades! Amém.
Doença de José
Aconteceu que, ao voltar a sua residência habitual de Nazaré, viu-se atacado pela doença que havia de levá-lo ao túmulo. Esta apresentou-se de forma mais alarmante do que em qualquer outra ocasião de sua vida, desde o dia em que nasceu.
Eis aqui, resumida, a vida de meu querido pai José: ao chegar aos quarenta anos, contraiu matrimônio, no qual viveu outros quarenta e nove.
Depois que sua mulher morreu, passou somente um ano. Minha mãe logo passou dois anos em sua casa, depois que os sacerdotes confiaram-na com estas palavras:
- Guarda-a até o tempo em que se celebre vosso matrimônio.
Ao começar o terceiro ano de sua permanência ali - tinha nessa época quinze anos de idade - trouxe-me ao mundo de um modo misterioso, que ninguém entre toda a criação pode conhecer, com exceção de mim, de meu Pai e do Espírito Santo, que formamos uma unidade.
O Início do Fim
A vida de meu pai José, o abençoado ancião, compreendeu cento e onze anos, conforme determinara meu bom Pai. O dia em que se separou do corpo foi no dia 26 do mês de Epep.
O ouro acentuado de sua carne começou a desfazer-se e a prata da sua inteligência e razão sofreu alterações. Esqueceu-se de comer e de beber e a destreza no desempenho de seu ofício passou a declinar.
Aconteceu que, ao amanhecer do dia 26 de Epep, enquanto estava em seu leito, foi tomado de uma grande agitação. Gemeu forte, bateu palmas três vezes e, fora de si, pôs-se a gritar dizendo:
Lamentos de José
- Ai, miserável de mim! Ai do dia em que minha mãe trouxe-me ao mundo! Ai do seio materno do qual recebi o germe da vida! Ai dos peitos que me amamentaram! Ai do regaço em que me reclinei! Ai das mãos que me sustentaram até o dia em que cresci e comecei a pecar! Ai de minha língua e de meus lábios que proferiram injúrias, enganos, infâmias e calúnias! Ai dos meus olhos, que viram o escândalo! Ai dos meus ouvidos que escutaram conversações frívolas! Ai das minhas mãos que subtraíram coisas que não lhes pertenciam!
Ai do meu estômago e do meu ventre que ambicionaram o que não era deles! Quando alguma coisa lhes era apresentada, devoravam-na com mais avidez do que poderia fazê-lo o próprio fogo! Ai dos meus pés que fizeram um mau serviço ao meu corpo, já que o levaram por maus caminhos! Ao do meu corpo todo que deixou a minha alma reduzida a um deserto, afastando-a de Deus que a criou! Que farei agora? Não encontro saída em parte alguma! Em verdade é que pobres dos homens que são pecadores! Esta é a angústia que se apoderou de meu pai Jacob em sua agonia, a qual veio hoje a ter comigo, infeliz. Mas, ó Senhor, meu Deus, que és o mediador de minha alma e de meu corpo e de meu espírito, cumpre em mim a tua divina vontade.
Jesus Consola seu Pai
Quando terminou de dizer estas palavras, entrei no local onde ele se encontrava e, ao vê-lo agitado de corpo e de alma, disse-lhe:
- Salve, José, meu querido pai, ancião bom e abençoado.
Ele respondeu, ainda tomado por um medo mortal:
- Salve mil vezes, querido filho. Ao ouvir tua voz, minha alma recupera sua tranqüilidade. Jesus, meu Senhor! Jesus, meu verdadeiro rei, meu salvador bom e misericordioso! Jesus, meu libertador! Jesus, meu guia! Jesus, meu protetor! Jesus, em cuja bondade encontra-se tudo! Jesus, cujo nome é suave e forte na boca de todos! Jesus, olho que vê e ouvido que ouve verdadeiramente: escuta-me hoje, teu servidor, quando elevo meus rogos e verto meus lamentos diante de ti.
Em verdade tu és Deus. Tu és o Senhor, conforme tem-me repetido muitas vezes o anjo, sobretudo naquele dia em que suspeitas humanas se aninharam em meu coração, ao observar os sinais de gravidez da Virgem sem mácula e eu havia decidido abandoná-la. Mas, quando eu estava pensando nisto, um anjo apareceu-me em sonhos e me disse: José, filho de Davi, não tenhas receio em receber Maria como esposa, pois o que há de dar à luz é fruto do Espírito Santo. Não guardes suspeita alguma a respeito de sua gravidez. Ela trará ao mundo um filho e tu dar-lhe-ás o nome de Jesus. Tu és Jesus Cristo, o salvador da minha alma, de meu corpo e de meu espírito. Não me condenes, teu servo e obra de tuas mãos.
Eu não sabia nem conhecia o mistério de teu maravilhoso nascimento e jamais havia ouvido que uma mulher pudesse conceber sem a obra de um homem e que uma virgem pudesse dar à luz sem romper o selo de sua virgindade. Ó, meu Senhor! Se não tivesse conhecido a lei desse mistério, não teria acreditado em ti, nem em teu santo nascimento, nem rendido honras a Maria, a Virgem, que te trouxe a este mundo. Recordo ainda aquele dia em que um menino morreu, por causa da mordida de uma serpente. Seus familiares vieram a ti, com intenção de entregar-te a Herodes.
Mas tua misericórdia alcançou a pobre vítima e devolveste-lhe a vida para dissipar aquela calúnia que te faziam, como causador da sua morte. Pelo que houve uma grande alegria na casa do defunto. Então eu te peguei pela orelha e disse-te: não sejas imprudente, meu filho. E tu me ameaçaste desta maneira: se não fosses meu pai, segundo a carne, dar-te-ia a entender que é isso o que acabas de fazer. Sim, pois, ó meu Senhor e Deus, esta é a razão pela qual vieste em tom de juízo e pela qual permitiste que recaíssem sobre mim estes terríveis presságios. Suplico-te que não me coloques diante do teu tribunal para lutar comigo. Eis que eu sou teu servo e filho de tua escrava. Se houveres por bem romper meus grilhões, oferecer-te-ei um santo sacrifício, que não será outro senão a confissão da tua divina glória, de que tu és Jesus Cristo, filho verdadeiro de Deus e, por outro lado, filho verdadeiro do homem.
AFLIÇÃO de Maria
Quando meu pai disse essas palavras, eu não pude conter as lágrimas e pus-me a chorar, vendo como a morte vinha apoderando-se dele pouco a pouco e ouvindo, sobretudo, as palavras cheias de amargura que saíam da sua boca.
Naquele momento, meus queridos irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que haveria de sofrer pela vida de todo mundo. Então Maria, minha querida mãe, cujo nome é doce para todos os que me amam, levantou-se e disse-me, tendo seu coração inundado na amargura:
- Ai de mim, filho querido! Está à morte o bom e abençoado ancião José, teu pai querido e adorado?
Eu lhe respondi:
- Minha mãe querida, quem entre o humanos ver-se-á livre da necessidade de ter de encarar a morte? Esta é dona de toda a humanidade, mãe bendita! E mesmo tu hás de morrer como todos os outros homens. Nem tua morte nem a de meu pai José, porém, podem chamar-se propriamente morte, mas vida eterna ininterrupta. Também eu hei de passar por este transe por causa da carne mortal com a qual estou revestido. Agora, mãe querida, levanta-te e vai até onde está o abençoado ancião José para que possas ver o lugar que o aguarda lá no alto.
As Dores de José
Levantou-se, entrou no local onde ele se encontrava e pôde apreciar os sinais evidentes da morte que já se refletiam nele. Eu, meus queridos, postei-me em sua cabeceira e minha mãe aos seus pés. Ele fixava seus olhos no meu rosto, sem poder sequer dirigir-me uma palavra, já que a morte apoderava-se dele pouco a pouco.
Elevou, então, seu olhar até o alto e deixou escapar um forte gemido. Eu segurei suas mãos e seus pés durante um longo tempo e ele me olhava, suplicando-me que não o abandonasse nas mãos dos seus inimigos.
Eu coloquei minha mão sobre seu peito e notei que sua alma já havia subido até a sua garganta para deixar seu corpo, mas ainda não havia chegado o momento supremo da morte. Caso contrário, não teria podido agüentar mais.
Não obstante, as lágrimas, a comoção e o abatimento que sempre a precedem já faziam presentes.
A Agonia
Quando minha mãe querida viu-me apalpar o seu corpo, quis ela, de sua parte apalpar, os pés e notou que o alento havia fugido juntamente com o calor.
Dirigiu-se a mim e disse-me ingenuamente:
- Obrigada, filho querido, pois desde o momento em que puseste tua mão sobre seu corpo, a febre o abandonou. Vê, seus membros estão frios como o gelo.
Eu chamei os seus filhos e filhas e lhes disse:
- Falai agora com o vosso pai, que este é o momento de fazê-lo, antes que sua boca deixe de falar e seu corpo fique hirto.
Seus filhos e filhas falaram com ele, mas sua vida estava minada por aquela doença mortal que provocaria sua saída deste mundo. Então, Lísia, filha de José, levantou-se para dizer aos seus irmãos:
- Juro, queridos irmãos, que esta é a mesma doença que derrubou a nossa mãe e que não voltou a aparecer por aqui até agora. O mesmo acontece com o nosso pai José, para que não voltemos a vê-lo senão na eternidade.
Então os filhos de José irromperam em lamentos. Maria, minha mãe, e eu, de nossa parte, unimo-nos ao seu pranto pois, efetivamente, já havia chegado a hora da morte.
A Morte Chega
Pus-me a olhar para o sul e vi a morte dirigir-se a nossa casa. Vinha seguida de Amenti, que é seu satélite, e do Diabo, a quem acompanhava uma multidão de esbirros vestidos de fogo, cujas bocas vomitavam fumaça e enxofre.
Ao levantar os olhos, meu pai deparou-se com aquele cortejo que o olhava com rosto colérico e raivoso, do mesmo modo que costuma olhar todas as almas que saem do corpo, particularmente aquelas que são pecadoras e que considera como propriedade sua.
Diante da visão desse espetáculo, os olhos do bom velho anuviaram-se de lágrimas. Foi neste momento em que meu pai exalou sua alma com um grande suspiro, enquanto procurava encontrar um lugar onde se esconder e salvar-se. Quando observei o suspiro de meu pai, provocado pela visão daquelas forças até então desconhecidas para ele, levantei-me rapidamente e expulsei o Diabo e todo seu cortejo. Eles fugiram envergonhados e confusos. Ninguém entre os presentes, nem mesmo minha própria mãe Maria, apercebeu-se da presença daqueles terríveis esquadrões que saem à caça de almas humanas.
Quando a morte percebeu que eu havia expulsado e mandado embora as potestades infernais, para que não pudessem espalhar armadilhas, encheu-se de pavor. Levantei-me apressadamente e dirigi esta oração a meu Pai, o Deus de toda misericórdia:
ORAÇÃO de Jesus
- Meu Pai misericordioso, Pai da verdade, olho que vê e ouvido que ouve, escuta-me, que eu sou teu filho querido! Peço-te por meu pai José, a obra de vossas mãos. Envia-me um grande corpo de anjos, juntamente com Micael, o administrador dos bens, e com Gabriel, o bom mensageiro da luz, para que acompanhem a alma de meu pai José até que se tenha livrado do sétimo éon tenebroso, de forma que não se veja forçado a empreender esses caminhos infernais, terríveis para o viajante por estarem infestados de gênios malignos e saqueadores e por ter de atravessar esse lugar espantoso por onde corre um rio de fogo igual às ondas do mar. Sede, além disso, piedoso para com a alma de meu pai José, quando ela vier repousar em vossas mãos, pois é este o momento em que mais necessita da tua misericórdia.
Eu vos digo, veneráveis irmãos e abençoados apóstolos, que todo homem que, chegando a discernir entre o bem e o mal, tenha consumido seu tempo seguindo a fascinação dos seus olhos, quando chegue a hora de sua morte e tenha de libertar o passo para comparecer diante do tribunal terrível e fazer sua própria defesa, ver-se-á necessitado da piedade de meu bom Pai.
Continuemos, porém, relatando o desenlace de meu pai, o abençoado ancião.
José Expira
Quando eu disse amém, Maria, minha mãe, respondeu na língua falada pelos habitantes do céu. No mesmo instante Micael, Gabriel e anjos, em coro, vindos do céu, voaram sobre o corpo de meu pai José.
Em seguida, intensificaram-se os lamentos próprios da morte e soube, então, que havia chegado o momento desolador. Sofria meu pai dores parecidas com as de uma mulher no parto, enquanto que a febre o castigava da mesma maneira que um forte furacão ou um imenso fogo devasta um espesso bosque.
A morte, cheia de medo, não ousava lançar-se sobre o corpo de meu pai para separá-lo da alma, pois seu olhar havia dado comigo, que estava sentado a sua cabeceira, com as mãos sobre suas têmporas.
Quando me apercebi de que a morte tinha medo de entrar por minha causa, levantei-me, dirigi meus passos até o lado de fora da porta e encontrei-a só e amedrontada, em atitude de espera.
Eu lhe disse:
- Ó tu, que vens do Meio-dia, entra rapidamente e cumpre o que ordenou-te meu Pai. Porém, guarda José como a menina dos teus olhos, posto que é meu pai segundo a carne e compartilhou a dor comigo, durante os anos da minha infância, quanto teve de fugir de um lado para outro por causa das maquinações de Herodes e ensinou-me como costumam fazer os pais para o proveito dos seus filhos.
Então Abbadão entrou, tomou a alma de meu pai José e separou-a do corpo no mesmo instante em que o sol fazia sua aparição no horizonte, no dia 26 do mês de Epep, em paz.
A vida de meu pai compreendeu cento e onze anos. Micael e Gabriel pegaram cada qual em um extremo de um pano de seda e nele depositaram a alma de meu querido pai José depois de tê-la beijado reverentemente.
Enquanto isso, nenhum dos que rodeavam José havia percebido a sua morte, nem sequer minha mãe Maria. Eu confiei a alma do meu querido pai José a Micael e Gabriel, para que a guardassem contra os raptores que saqueiam pelo caminho e encarreguei os espíritos incorpóreos de continuarem cantando canções até que, finalmente, depositaram-no junto a meu Pai no céu.
Luto na Casa de José
Inclinei-me sobre o corpo inerte de meu pai. Cerrei seus olhos, fechei sua boca e levantei-me para contemplá-lo. Depois disse à Virgem:
- Ó Maria, minha mãe, onde estão os objetos de artesanato feitos por ele desde sua infância até hoje? Neste momento todos eles passaram, como se ele não tivesse sequer vindo a este mundo.
Quando seus filhos e filhas ouviram-me dizer isto a Maria, minha mãe virginal, perguntaram-me com vozes fortes e lamentos:
- Será que nosso pai morreu sem que nós nos apercebêssemos?
Eu lhes disse:
- Efetivamente, morreu, mas sua morte não é morte, porém vida eterna. Grandes coisas esperam nosso querido pai José. Desde o momento em que sua alma sai do seu corpo, desapareceu para ele toda espécie de dor. Ele se pôs a caminho do reino eterno. Deixou atrás de si o peso da carne, com todo este mundo de dor e de preocupações, e foi para o lugar de repouso que tem meu Pai nesses céus que nunca serão destruídos.
Ao dizer a meus irmãos que o nosso pai José, o abençoado ancião, havia finalmente morrido, eles se levantaram, rasgaram suas vestes e o choraram durante um longo tempo.
Luto em Nazaré
Quando os habitantes de Nazaré e de toda a Galiléia inteiraram-se da triste nova, acudiram em massa ao lugar onde nos encontrávamos. De acordo com a lei dos judeus, passaram todo o dia dando sinais de luto até que chegou a nona hora.
Despedi, então todos, derramei água sobre o corpo de meu pai José, ungi-o com bálsamo e dirigi ao meu Pai amado, que está nos céus, uma oração celestial que havia escrito com meus próprios dedos, antes de encarnar-me nas entranhas da Virgem Maria.
Ao dizer amém, veio uma multidão de anjos. Mandei que dois deles estendessem um manto para depositar nele o corpo de meu pai José para que o amortalhassem.
BÊNÇÃO de Jesus
Pus minhas mãos sobre o seu corpo e disse:
- Não serás vítima da fetidez da morte. Que teus ouvidos não sofram corrupção. Que não emane podridão de teu corpo. Que não se perca na terra a tua mortalha nem a tua carne, mas que fiquem intactas, aderidas ao teu corpo até o dia do convite dos dois mil anos. Que não envelheçam, querido pai, esses cabelos que tantas vezes acariciei com minhas mãos. E que a boa sorte esteja contigo. Aquele que se preocupar em levar uma oferenda ao teu santuário no dia de tua comemoração, eu o abençoarei com afluxos de dons celestiais. Assim mesmo, a todo aquele que der pão a um pobre em teu nome, não permitirei que se veja agoniado pela necessidade de quaisquer bens deste mundo, durante todos os dias de sua vida.
Conceder-te-ei que possas convidar ao banquete dos mil anos a todos aqueles que no dia de tua comemoração ponham um copo de vinho na mão de um forasteiro, de uma viúva ou de um órfão. Hei de dar-te de presente, enquanto vivam neste mundo, a todos os que se dediquem a escrever o livro da tua saída deste mundo e a consignar todas as palavras que hoje saíram de minha boca. Quando abandonarem este mundo, farei com que desapareça o livro no qual estão escritos seus pecados e que não sofram nenhum tormento, além da inevitável morte e do rio de fogo que está diante do meu Pai, para purificar toda a espécie de almas. Se acontecer que um pobre, não podendo fazer nada do que foi dito, ponha o nome de José em um de seus filhos em tua honra, farei com que naquela casa não entre a fome nem a peste, pois o teu nome habita ali de verdade.
A Caminho do Túmulo
Os anciãos da cidade apresentaram-se na casa enlutada, acompanhados daqueles que procediam ao sepultamento à maneira judia. Encontraram o cadáver já preparado para o enterro. A mortalha se havia aderido fortemente ao seu corpo, como se houvessem atado com grampos de ferro e não puderam encontrar sua abertura, quando removeram o cadáver.
Em seguida, passou-se a conduzir o morto até seu túmulo. Quando chegaram até ele e estavam já preparados para abrir sua entrada e colocá-lo junto aos restos de seu pai, veio-me à mente a lembrança do dia em que me levou até o Egito e das grandes preocupações que assumiu por mim.
Não pude deixar de atirar-me sobre o seu corpo e chorar por um longo tempo, dizendo:
EXCLAMAÇÕES de Jesus
- Ó morte, de quantas lágrimas e lamentos és causa! Esse poder, porém, vem d'Aquele que tem sob o seu domínio todo o universo. Por isso tal reprovação não vai tanto contra a morte senão contra Adão e Eva. A morte não atua nunca sem uma prévia ordem de meu Pai. Existem aqueles que viveram mais de novecentos anos e outros ainda muito mais tempo. Entretanto, nenhum deles disse: eu vi a morte ou a morte vinha de tempos em tempos atormentar-me. Senão que ela traz uma só vez a dor e, ainda assim, é meu bom Pai quem a envia. Quando vem em busca do homem, ela sabe que tal resolução provém do céu. Se a sentença vem carregada de raiva, a morte também se manifesta colérica para cumprir sua incumbência, pegando a alma do homem e entregando-a ao seu Senhor.
A morte não tem atribuições para atirar o homem ao inferno nem para introduzí-lo no reino celestial. A morte cumpre de fato a missão de Deus, ao contrário de Adão, que ao não submeter-se à vontade divina, cometeu uma transgressão. Ele irritou meu Pai contra si, por haver preferido dar ouvidos a sua mulher, antes de obedecer à sua missão. Assim, todo ser vivo ficou implacavelmente condenado à morte.
Se Adão não houvesse sido desobediente, meu Pai não o teria castigado com esta terrível sina. O que impede agora que eu faça uma oração ao meu bom Pai para que envie um grande carro luminoso para elevar José, a fim de que não prove das amarguras da morte e que o transporte ao lugar de repouso, na mesma carne que trouxe ao mundo, para que ali viva com seus anjos incorpóreos? A transgressão de Adão foi a causa de sobreviverem esses grandes males sobre a humanidade, juntamente com o irremediável da morte. Embora eu mesmo carregue também esta carne concebida na dor, devo provar com ela da morte para que possa apiedar-me das criaturas que formei.
O Enterro
Enquanto dizia essas coisas, abraçado ao corpo de meu pai José e chorando sobre ele, abriram a entrada do sepulcro e depositaram o cadáver junto ao de seu pai Jacob. Sua vida foi de cento e onze anos, sem que ao fim de tanto tempo um só dente tivesse estragado em sua boca ou sem que seus olhos se tornassem fracos, senão que todo o seu aspecto assemelhava-se ao de um afetuoso menino.
Nunca esteve doente, senão que trabalhou continuamente em seu ofício de carpinteiro, até o dia que sobreveio a doença que haveria de levá-lo ao sepulcro.
CONTESTAÇÃO dos Apóstolos
Quando nós, os apóstolos, ouvimos tais coisas dos lábios de nosso Salvador, pusemo-nos em pé, cheios de prazer e passamos a adorar suas mãos e seus pés, dizendo com o êxtase da alegria:
- Damos-te graças, nosso Senhor e Salvador, por te haveres dignado a presentear-nos com essas palavras saídas de teus lábios. Mas não deixamos de admirar, ó bom Salvador, pois não entendemos como, havendo concedido a imortalidade a Elias e a Enoch, já que estão desfrutando dos bens na mesma carne com que nasceram, sem que tenham sido vítimas da corrupção, e agora, tratando-se do bendito ancião José, o Carpinteiro, a quem concedeste a grande honra de chamá-lo teu pai e de obedecê-lo em todas as coisas, a nós mesmos nos encarregaste:
quando fordes revestidos da mesma força, recebereis a voz de meu Pai, isto é, o Espírito Paráclito, e sereis enviados para pregar o evangelho e pregai também ao querido pai José. E ainda: consignai estas palavras de vida no testamento de sua partida deste mundo e lê as palavras deste testamento nos dias solenes e festivos e quem não tiver aprendido a ler corretamente, não deve ler este testamento nos dias festivos. Finalmente, quem suprimir o adicionar algo a estas palavras, de maneira a fazer-me embusteiro, será réu de minha vingança. Admira-nos, repetimos, aquele que, havendo chamado teu pai segundo a carne, desde o dia em que nasceste em Belém, não lhe tenhas concedido a imortalidade para viver eternamente.
. Resposta de Jesus
Nosso Salvador respondeu, dizendo-nos:
- A sentença pronunciada por meu Pai contra Adão não deixará de ser cumprida, já que este não foi obediente aos mandamentos. Quando meu Pai destina a alguém ser justo, este vem a ser imediatamente o seu eleito. Se um homem ofende a Deus por amar as obras do demônio, acaso ignora que um dia virá a cair em suas mãos se seguir impenitente, mesmo se lhe concederem longos dias de vida?
Se, ao contrário, alguém vive muito tempo, fazendo sempre boas obras, serão exatamente elas que o farão velho. Quando Deus vê que alguém segue o caminho da perdição, costuma conceder-lhe um curto prazo de vida e o faz desaparecer na metade dos seus dias. Quanto aos demais, hão de ter o exato cumprimento das profecias ditadas por meu Pai acerca da humanidade e todas as coisas hão de suceder de acordo com elas. Haveis citado o caso de Enoch e Elias. Eles, dizeis, continuam vivendo e conservam a carne que trouxeram a este mundo. Por que, então, em se tratando de meu pai, não lhe permiti conservar seu corpo? Então eu digo que, mesmo que houvesse chegado a ter mais de dez mil anos, sempre incorreria na mesma necessidade de morrer.
Mais ainda, eu asseguro que sempre que Enoch e Elias pensam na morte, desejariam já havê-la sofrido a verem-se assim, livres da necessidade que lhes é imposta, já que deverão morrer num dia de turbação, de medo, de gritos, de perdição e de aflição. Pois haveis de saber que o Anticristo há de matar esses homens e de derramar seu sangue na terra como água de um copo por causa das incriminações que lhe imputarão, quando os acusarem.
Epílogo
Nós respondemos, dizendo:
- Nosso Senhor e Deus, quem são esses dois homens, dos quais disseste que o filho da perdição matará por um copo de água?
Jesus, nosso Salvador e nossa vida, respondeu:
- Enoch e Elias.
Ao ouvir essas palavras da boca de nosso Salvador, se nos encheu o coração de prazer e de alegria. Por isso lhe rendemos homenagens e graças como nosso Senhor, nosso Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo, por meio de quem vão para o Pai toda a glória e toda a honra juntamente com Ele e com o Espírito Santo vivificador, agora, por todo o tempo e pela eternidade das eternidades.