Panacéia dos Amigos

quarta-feira

Agonia e Extâse - (The Agony And The Ecstasy)




Pude assistir este filme recentemente. Adoro os filmes que tentam trazer algo da biografia dos grandes nomes da humanidade. Tanto melhor quando isto é feito com qualidade e interesse. O filme foi indicado ao OSCAR de Melhor Fotografia e também citado como um dos melhores filmes do ano pelo National Board of Review.

Vemos duas punjantes interpretações de duas das personalidades mais marcantes da Renascença neste drama histórico baseado no best-seller de Irving Stone ambientado no início do Século XVI, com texto adaptado de Phillip Dunne e direção de Carol Reed. O clássico Agonia e Êxtase vislumbra o renascimento italiano a partir da tensa relação de amor e ódio entre o pintor Michelangelo (Charlton Heston, de O Planeta dos Macacos) e o papa Júlio II (Rex Harrison, de My Fair Lady).

Sendo um artista renascentista, Michelângelo é obstinado por sua liberdade para desenvolver seu projeto o que contrasta com os desejos do Papa que tenta controlar e doutrinar o indomável artista. Michelângelo como artista desafiar um dos homens mais poderosos do mundo, e seu desejo de ordem, disciplina e prazos. Uma curiosa alegoria com a alma criativa dos homens e sua necessidade de viver em mundo repleto de regras. Mas, veremos no decorrer da história que os pontos de vista não são, nem devem ser tão preto e branco.

A história se centra no conflito entre os protagonistas quando o Papa Júlio II (Harrison) encomenda a Michelangelo (Heston) a pintura do teto da Capela Sistina, o artista recusa a princípio, pois como alega “sou um escultor”. Com habilidade e teimosia o Papa consegue força o artista a fazer o trabalho. Mas, inconformado como o que lhe parece um trabalho medíocre e absurdo ele acaba por destruir a obra feita até aquele momento e foge de Roma. 

Obstinado o Papa manda perseguir o artista fugitivo por todos os lugares. Em um determinado momento de sua fuga, afinal, Michelângelo tem uma visão inspiradora  na cena clássica em que o artista recebe a inspiração para criar a pintura "O Nascimento do Homem" (uma das mais famosas de todos os tempos).


Esta visão o faz se decidir por realizar a obra encomendada. Quando recomeça a pintura, o projeto se torna uma batalha de vontades alimentada pelas diferenças artísticas e de temperamento que são o ponto central deste filme.  A pintura da Capela Sistina foi um dos trabalhos mais longos. O artista ficou de 1508 a 1512 para narrar nove episódios do Gênese - o primeiro livro do Pentateuco, descrito por Moisés, no qual são narradas as criações do homem e do mundo por Deus. 

Um dos momentos cômicos do filme era a repetitiva pergunta do Papa a Michelângelo: “Quando ficará pronto?” ao que, irritado, o artista replicava: “Quando eu tiver terminado!”.

Com o correr do filme passamos a compreender que as pessoas e suas motivações são mais complexas do que pode parecer. A teimosia e irritabilidade do Papa escondia um grande amor pela obra de Michelângelo, demonstrada sutilmente pela paciência com que ele sempre estava disposto a tolerar os intempestivos acessos de fúria do artista e continuar a financiá-lo. 

Minha cena favorita é a aquela em que o Papa, mesmo muito doente, se arrasta pelos andaimes até o teto para vislumbrar a pintura “O nascimento do Homem”. Michelângelo o encontra lá, extasiado. O Papa se volta para ele e pergunta: “É assim que você o imagina, filho?” Esta questão encerra toda a admiração do Papa. Ele queria ver “Deus” através dos olhos do seu artista favorito. O Papa amava a arte de Michelângelo, pois, a considerava um dom divino. Michelângelo não acreditava em dom divino, mas não podia negar a utilidade de toda aquela doutrina do Papa que acabou, por fim, auxiliando-o na criação de sua obra – prima. 


Assim , vemos em agonia e êxtase essas duas figuras que descobriram a complementaridade na diferença e o quanto suas disputas por controle acabaram por criar uma sinergia que permitiu a força necessária para tal obra magnífica. O filme é tocante, agradável e reflexivo sobre o quanto não percebemos que, por vezes, os que menos parecem nos tolerar estão entre os que mais nos admiram.

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